domingo, 2 de agosto de 2009

Um tempo parando pra ver o tempo passando

Nasci a trinta anos, engraçado como a gente olha com naturalidade isso tudo a nossa volta. É como se nada tivesse mudado, quando na verdade quase tudo mudou.

Quando nasci, no final da década de setenta, o mundo já estava preocupado com o Oriente Médio. A revolução islâmica do Irã iria desencadear uma das fases mais agudas da crise do petróleo. Hoje este mesmo Irã se revolta contra o regime islâmico e a preocupação sobre o futuro de uma economia a base de petróleo volta à tona com a conscientização sobre o aquecimento global.

Por mais que algumas situações repitam scripts quase idênticos aos de 30 anos atrás, a grande verdade é que pouca coisa lembra aquele mundo em que nasci. Vivemos hoje num mundo melhor, diria eu, pois sou daqueles talvez bobos que se encantam com o progresso, com a capacidade do ser humano de criar coisas inusitadas para satisfazer aquelas necessidades que nem sabíamos que tínhamos.

Criação de necessidades que nos deixa cada vez mais frustrados e ansiosos por não conseguir satisfazê-las todas, diriam alguns amigos meus, meio intelectuais, meio de esquerda. Mas se pararmos um pouco de prestar atenção no que não podemos ter e nos concentrarmos naquilo que temos, perceberemos o mundo de possibilidades que temos hoje, e que não tinham os nossos pais há 30 anos.

Tenho amigos no mundo inteiro e me comunico com eles como se estivessem aqui do lado, a qualquer hora, por texto, voz ou imagem. Compro o livro que quiser sem sair de casa escolhendo de um estoque infinito. Tenho acesso a toda e qualquer informação, cultura e conhecimento sem limites, de uma forma democrática como nunca se viu. Só posso ser otimista a respeito de uma sociedade que consome informação de múltiplas fontes, sem restrições. Não há dúvida que a sociedade em que vivemos hoje, apesar de mais individualista e mais ansiosa, é menos propensa à manipulação, mais diversa e menos preconceituosa do que há 30 anos.

Trabalho em uma indústria de papel e celulose e tenho como principal tarefa desenvolver projetos para um futuro onde usaremos o papel, a celulose e a árvore de uma forma bem diferente da que usamos hoje, provavelmente de uma forma mais inteligente. Viveremos num país diferente do que vivemos hoje, e que muito pouco lembrará aquele em que nasci há 30 anos.

Quando criança assistia na sessão da tarde enlatados americanos onde as forças do bem combatiam comunistas malvados e comedores de criancinhas. Hoje a Russia, aquela que há apenas 20 anos era uma das duas superpotências mundiais, está ao lado do Brasil na sigla BRIC. Segundo Obama nosso presidente é "o cara". O etanol, aquele mesmo do próalcool, é benchmark mundial. A India tem multinacionais que compram todo mundo e a China, bem, a China ganhou mais medalhas de ouro que os Estados Unidos nas últimas olimpíadas! Estou ficando velho, onde estão as medalhas da Alemanha Oriental?

Na Paulista a passeata gay tem 3 milhões de pessoas, mais gente que no Anhangabaú das diretas já. Minha sobrinha está preocupada com as sacolas plásticas que minha irmã pega no supermercado, o Brasil está emprestando dinheiro pro FMI, a GM pediu falência, a FIAT pode comprar uma parte dela. Quem olhava pro 147 naquele longínquo ano de 1978 mal podia imaginar. O presidente americano é negro, a Europa é um país só, incluindo aqueles caras da "cortina de ferro". O Real se valoriza a cada dia, neste trimestre podemos ter deflação. Enfim: mais do mesmo.

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