quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Energia - Ensaio 1, Parte 1

Há cerca de 300 anos, Thomas Newcomen inventou a máquina a vapor, tornando possível revolução industrial.  Antes disso já se usava a madeira e o carvão para aquecimento, mas a energia mecânica, necessária para mover objetos e automatizar processos industriais, dependia da força física dos seres humanos e dos animais, o que limitava profundamente a capacidade do ser humano de gerar riqueza e de produzir bens e serviços muito além daqueles necessários para a sua própria subsistência. 

O carvão era abundante, barato e possuía alta densidade energética.  As máquinas a vapor multiplicaram a capacidade produtiva e a desvincularam da força humana e animal, que dependiam do gasto de calorias, que por sua vez dependiam da ingestão das mesmas, presentes nos alimentos.

As locomotivas e os navios a vapor possibilitavam vencer grandes distancias em tempos relativamente curtos, impulsionando a integração e o comércio entre as cidades.  Apesar de protestos dos trabalhadores no início da revolução industrial, que quebravam as mesmas máquinas que lhes tirava os empregos, em pouco tempo ficou claro que a industrialização traria para a humanidade um nível de conforto e desenvolvimento inimaginável até então.

Com a conseqüente automação da agricultura, a invenção do motor de combustão interna (impulsionado pela descoberta do petróleo), e a descoberta da eletricidade, uma grande parte da humanidade se desvinculou do trabalho braçal.  Sem precisar dedicar tanto esforço para a própria subsistência subimos um degrau na pirâmide de Maslow, e com nossas necessidades fisiológicas satisfeitas começamos a busca para satisfazer novas necessidades, que nem sabíamos que tínhamos.

Como conseqüência disso tudo a humanidade avançou nos últimos 300 anos (um período relativamente curto se considerarmos a existência humana na terra) a um ritmo incomparável.  Quanto mais nos libertávamos do trabalho braçal mas nos dedicávamos ao trabalho intelectual. O conhecimento, vital neste tipo de trabalho,  deixou de ser restrito às elites e passou a ser disseminado a uma parcela crescente da população. Com mais gente pensando, mais conhecimento foi sendo criado e disseminado, impulsionando novos avanços tecnológicos, em um círculo virtuoso que perdura até os nossos dias.

Apesar de termos estudado a revolução industrial nos tempos de colégio e de usufruirmos de um estilo de vida impensável não fosse pelos avanços tecnológicos iniciados desde então, paramos pouco para pensar, em nosso dia a dia, no fator essencial que torna tudo isso possível:  a energia.

Exceto quando pagamos a conta de luz ou abastecemos nossos carros pouco nos damos conta de que a energia está presente em praticamente todos os aspectos das nossas vidas.  Do gás necessário para cozinhar nossas refeições, ao óleo usado no navio que trouxe da China o último “gadget”que adquirimos e que não conseguimos mais viver sem, tudo requer energia, se não vejamos:

Acordo de manhã com o toque do meu celular, cuja bateria foi carregada com energia elétrica. O aparelho é composto de uma série de peças industrializadas, que requereram alguma energia para serem produzidas, foi montado na China, e transportado ao Brasil utilizando ainda mais energia.  Me levanto e vou ao banheiro tomar um banho quente (aquecimento a gás, mais energia), escovo os dentes (pasta e escova são produtos industrializados, mais energia), lavo o rosto (a bomba d’água que torna possível ter água corrente no terceiro andar requer, adivinha?, mais energia).  Me visto (a produção das roupas, a lavagem das mesmas, o ferro de passar, energia, energia, energia).  E olhe que eu nem saí de casa ainda!!!

Não é difícil perceber que usamos uma grande quantidade de energia diariamente, e que a tendência é que usemos cada vez mais, à medida em que novos “gadgets”, equipamentos, eletrodomésticos e produtos industrializados são consumidos por nós a um ritmo incomparável àquele do tempo dos nossos pais.

Até pouco tempo atrás, digamos, até os anos 60, vivíamos em um mundo onde aparentemente a oferta de energia era ilimitada.  Energia abundante e de baixo custo tornava possível sustentar o forte crescimento da demanda.  Esta promessa de oferta ilimitada começou a ser desmentida na década de 70 com a primeira crise do petróleo.  Os principais países exportadores de petróleo (concentrados em sua maioria no oriente médio e organizados em cartel através da OPEP), “fecharam a torneira” e reduziram drasticamente a oferta de petróleo, jogando o preço da commodity nas alturas e acordando o mundo para o fato de que dependíamos, mais do que imaginávamos, de um combustível Fóssil não renovável e que cuja oferta estava nas mãos de um punhado de países não muito simpáticos ao mundo ocidental.

O recente rally que vimos no preço do petróleo, que chegou a US$ 150 o barril em 2008, é ainda mais alarmante.  O aumento nos preços não foi causado por um choque abrupto na oferta, como nos anos 70, mas pelo forte aumento na demanda, com países emergentes sedentos por petróleo para sustentar seu rápido crescimento, enquanto que os países desenvolvidos (notadamente os EUA), pouco faziam para reduzir sua dependência através de medidas de eficiência energética.

O que está acontecendo com o petróleo tende a se repetir com os demais combustíveis fosseis (que juntos respondem por 80% do consumo de energia no mundo).  À medida em que as reservas “fáceis” secam, é necessário ir mais longe, mais fundo, e extrair produtos de qualidade inferior (que conseqüentemente exigem mais pré-tratamento).  Em outras palavras:  muito antes do petróleo, do carvão e do gás natural “se acabarem” eles vão ficar mais caros, muito mais caros.

Alem de provocar um amento de preço, a crescente demanda por estes produtos, e sua queima para gerar energia, que vem acontecendo, como já vimos, há 300 anos, vem deixando marcas permanentes na atmosfera da terra.  Suas conseqüências ainda estão longe de serem completamente estimadas.

... to be continued