sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Economia Global e Geopolítica - 1º Ensaio

O mundo vive um processo sem precedentes de democratização da riqueza entre os países. Parece uma contradição que o capitalismo, ao invés do socialismo, venha a diminuir, e não a aumentar, disparidades econômicas. A concentração de renda dentro das fronteiras de cada país talvez continue a aumentar, impulsionada pelo acúmulo de riqueza da minoria mais rica, e não pelo empobrecimento da maioria mais pobre (a pobreza extrema está com os dias contados, pois a economia de mercado não pode mais se dar ao luxo de excluir bilhões de “potenciais consumidores”). A diferença de riqueza entre os países, no entanto, já vem diminuindo e diminuirá cada vez mais, não pelo colapso das economias desenvolvidas, mas pela ascensão dos emergentes. Nunca tantos países apresentaram, ao mesmo tempo, taxas de crescimento tão altas como as observadas nos últimos vinte anos.

Até a década de 80, a maioria dos países do terceiro mundo possuía um sistema político e econômico híbrido entre o capitalismo e o socialismo. Existia nestes países um capitalismo incipiente, onde o setor privado era pouco desenvolvido, seus mercados eram estritamente fechados e seus governos receosos em adotar políticas de abertura comercial. Este sistema híbrido se mostrou ineficiente, provocando nestes países crescimento pífio e hiperinflação. A queda do muro de Berlim e o sucesso dos tigres asiáticos (países que adotaram políticas mais liberais de economia de mercado) deixaram claro o caminho a ser seguido: a liberalização dos mercados. Com políticas de responsabilidade fiscal e uma maior abertura econômica uma boa parte dos países que costumávamos chamar de subdesenvolvidos passaram à condição de “emergentes”, erradicaram a hiperinflação (hoje apenas 12 países no mundo apresentam taxa de inflação superior a 15% anuais) e começaram a receber consideráveis investimentos externos (fruto da redução significativa do risco associado a estes países).

Pegando o Brasil como exemplo, vivemos hoje em um país que poucos poderiam imaginar em 1980. Nossa taxa anual de inflação está controlada por volta de 5% ao ano (na década de 80 chegamos a incríveis 1.200% anuais), temos uma perspectiva de crescimento sustentado do PIB na casa dos 4% ao ano (ritmo que deve ser retomado já em 2010, apesar da crise) e o risco Brasil (índice que mede a confiança do investidor em nosso país), está em 250 pontos, tendo chegado a 150 pouco antes da crise (ou seja, por meros 1,5% a mais o investidor estaria disposto a “se arriscar” comprando títulos da dívida brasileira ao invés da americana, situação impensável 20 anos atrás).

O mais importante é que o que está acontecendo no Brasil não é exceção, é regra. Em 2006 e 2007 124 países cresceram a uma taxa de 4% ou mais, nenhum deles do chamado mundo desenvolvido. Antoine van Agtmael, fundador do conceito de “mercados emergentes”, identificou 25 empresas como as principais empresas multinacionais da nova geração, todas de países emergentes, quatro delas brasileiras. Como conseqüência disso os países em desenvolvimento capturarão a maior parte do crescimento mundial nos próximos anos. Crescendo mais rápido nos aproximaremos, e eventualmente ultrapassaremos, os países que hoje chamamos de desenvolvidos, e que no futuro poderemos tratar como iguais. Em 2040, um grupo de 5 países emergentes (China, índia, Brasil, Rússia e México) terá um PIB conjunto maior do que o do G-7, atual grupo de países desenvolvidos que dominou a esfera econômica no século XX. E em 2050, o Brasil não será apenas o país do futebol e do carnaval, será também a quarta economia do mundo, atrás apenas de China, EUA, e Índia.

Mas ser um país “desenvolvido”, e apresentar uma condição de vida confortável para o seu povo, tem menos a ver com PIB total e mais a ver com PIB per capita. Como o PIB dos países emergentes cresce em um ritmo bem mais acelerado que a população, o PIB per capita também tende a crescer, e a disparidade entre os países tende a diminuir. Países emergentes como Brasil, México, China e Rússia apresentarão em 2050 rendas per capita muito próximas aos dos países europeus. Eu, que nasci em um país pobre, morrerei em um país rico.

Não precisaremos esperar até 2050 para sentir os efeitos destas mudanças, eles já estão se apresentando hoje (com a crescente influência geopolítica da China) e se multiplicarão no futuro. O principal efeito é a perda da posição dos EUA como única potência mundial (posição que vem mantendo desde o desmantelamento da URSS). Apesar de continuar crescendo, os Estados Unidos representarão um percentual cada vez menor da economia mundial, e por conta disso terão uma importância decrescente (porém ainda muito forte) na definição dos rumos da política global. Por um lado isso poderia representar um risco à segurança global, com a ascensão de novas potências capazes de rivalizar o poderio militar americano e trazendo novamente à cena um possível cenário de conflito armado de grande porte, possibilidade que havia sido afastada desde o fim da guerra fria.

O que a guerra fria nos mostrou, no entanto é que, à medida que um país assume uma posição de liderança no contexto global, assume também uma maior responsabilidade neste contexto. No mundo em que vivemos hoje e que viveremos no futuro, com uma economia cada vez mais global e interdependente, um país que almeje destacar-se no contexto econômico mundial simplesmente não poderá se dar ao luxo de colocar em risco sua posição se envolvendo em conflitos armados, principalmente em conflitos de grandes proporções, sob pena de isolamento econômico, o que no século XXI significa assinar a própria sentença de morte. Sempre existirão os fundamentalistas a lá Chavez ou Ahmadinejahd, mas na falta de uma opção viável ao capitalismo de mercado (que, na minha opinião, só se fortaleceu com a crise, uma vez que o crescimento mundial se recuperará em no máximo dois anos daquela que foi anunciada como “a maior crise financeira em 80 anos”) estes ditadores só sobreviverão em países economicamente irrelevantes, tornando o risco de um conflito armado de grande porte próximo a zero.

Por fim, entendo que não só o poder e influência das nações desenvolvidas tende a diminuir, como também o poder e a influência das nações, de um modo geral. Fronteiras significarão cada vez menos em um mundo dominado por multinacionais que enxergam o mundo como um só mercado, e que possuem interesses estratégicos que transcendem interesses nacionais. As fronteiras ainda existirão por algum tempo, mas serão cada vez mais irrelevantes.

2 comentários:

  1. muito legal sua visão de futuro, também acredito que o pior, pelo menos no que se refere a guerras e pobreza extrema já passou, a bronca agora vai ser o meio ambiente

    parabéns pelo texto

    Abraço

    ResponderExcluir
  2. http://www.longbets.org/


    Pedro, começa a ganhar grana com isso! :D Beijos

    ResponderExcluir